
Como a maioria das artistas eu não tenho interesse em falar sobre mim, preferindo que a minha arte cumpra esta função. Mais do que uma profissão, ela ajuda uma mulher trans e com autismo leve a relaxar de um mundo que honestamente já é problematico para pessoas consideradas "normais", e o qual e pior ainda para quem é muito diferente.
Eu gosto de em minhas artes efetuar uma combinação de meiguice com estranheza, gosto de movimento e principalmente interatividade; esta também tem muita influência de música, outra paixão comum a quem tem autismo. Tento não ser limitada pela opinião dos outros em minhas criações, mas ao mesmo tempo tento não chocar demais as pessoas ao abordar certos temas. Eu sinto que minha vida pode ser simbolizado pelo famoso símbolo do yin-yang: Positivo e negativo, opostos que refletem em minha arte. Originalmente eu era apenas esforçada em meus estudos e de forma ingênua eu tentava ser gentil com as outras pessoas, mas a isso com o tempo eu adicionei "sem perder o meu amor-próprio" e "evitar ser vitimista" pelo que eu passei. A minha vida poderia ter sido muito melhor, mas também pior.
Alguns pontos de minha história são:
- Nasci no norte do Brasil em 1990. O meu ambiente familiar não foi tão estável assim, porém nunca me faltou nada.
- No ano 2000 eu sofri um bullying especialmente danoso, oriundo de gente bem mais velha por eu ter ganho uma competição da arte da logo para uma feira de ciências da cidadezinha onde eu morava. Possivelmente tinham inveja. Pelo trauma, eu adquiri um medo de me destacar que duraria uma década. Eu me enfraqueci mais ainda com uma crescente infelicidade de viver em um corpo incompativel com a minha identidade de gênero.
- Nesse meio tempo eu também sofri bullying pelo meu autismo, o mesmo perfil de pessoa focava no que consideravam defeitos como "lerdeza", "ser calada" e "estranha" em detrimento a qualidades como a inteligência e sensibilidade. Geralmente era um ataque psicológico, mas as vezes isso chegava ao assédio físico. Eu passei a não querer mais ir a escola e a ver a todos como uma ameaça em potencial. Com o tempo certas características da condição foram sendo lentamente polidas e a incidência desse tipo de evento reduziu.
- Iniciei em 2007 um projeto de jogo de computador que teve uma boa recepção até o momento, o qual viria a ser chamado de projeto Starchild. Além da programação, eu efetuo as artes e parte das músicas.
- Eu ingressei em uma faculdade de design gráfico em 2008, a qual foi finalizada por mim em 2010 já aos 20 anos. A maior parte de minha formação artística porém foi por auto-didatismo. Em 2008, integrando um grupo de outros 2 participantes eu novamente ganhei uma competição de arte na faculdade.
- Em 2011 eu fiquei entre as pessoas semifinalistas no chamado "sackboy contest" do famoso site internacional deviantart, uma competição de arte referente a um jogo de videogame.
- Em 2014 eu entendi ser mulher trans, iniciando a minha transição em 2017 e me assumindo publicamente em 2018. Gradualmente eu me senti mais feliz comigo mesma, mas simultaneamente, eu recebi preconceito como o esperado enquanto eu não me tornava "passável".
- Em 2015 eu iniciei os meus estudos sobre o idioma japonês, primeiro com uma professora particular e depois pelo estabelecimento oficial. O estudo foi finalizado ao fim de 2017.
- Pela afinidade com música eu estudei canto e violino iniciando em 2017, e incorporei o que aprendi em minhas artes.
- No momento estou no processo de estudar por um longo período arte no Japão, país pelo qual sempre tive interesse, na Yokohama Design Gakuin.
Sem provocação a vida me deu ódio e hipocrisia desde a infância; me arruinaram mas consegui me reerguer fortalecida e eu agora devolvo flores. Citando outra metáfora: "Dos limões eu fiz uma limonada". A minha foto sorrindo acima é a minha singela resposta a esse mundo.

Última atualização: 2022/02/19